sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Mensagem a um amigo

Você diz achar engraçado, ou esquisito, quando eu te digo que, de alguma forma, você já experimentou o que eu costumo - lástima! - chamar de "zazen verdadeiro".

(Lastimo por saber que, falando assim, vem logo à cabeça "zazen falso", o que não existe. Ou há zazen ou não há zazen; zazen ou não zazen, eis a questão. O "zazen verdadeiro" serve apenas para delinear os momentos, raros ou não, em que não estamos simplesmente sentados tentando fazer zazen. Mesmo estar "sentado tentando fazer zazen" já é fazer zazen, porém.)

Não se admire: não estou falando de algo muito além algures, não estou falando de algo especial e do qual eu tenho testemunho e propriedade. Se você usar a sua cabeça e observar bem, verá por si mesmo e pela sua prática que o tal do "zazen verdadeiro" não é difícil de ser alcançado: não é um prêmio ao longo de um árduo e esforçado caminho, algo ao ser alcançado por último.

Olhe! Observe! Você sabe do que eu estou falando. Mesmo que tenha sido por um brevíssimo momento, em qualquer lugar que seja, você já o vivenciou. Mesmo que você não tenha compreendido muito, ou sequer pensado a respeito, sem que você queira ele já se diluiu e está lá, sombranceiro, junto com o seu zazen. Sem querer, ele se tornou uma lembrança difusa, até mesmo inconsciente, mas uma lembrança costurada e amarrada profunda e intimamente. Se você deixar, esta vivência te arrastará novamente para ela. Se tentar ir atrás, não a alcançará jamais.

Vivenciar este "verdadeiro zazen" não é sinônimo de tarefa cumprida. É, na verdade, o começo. Quando você consegue discernir, por si mesmo, que estes delicados e raros momentos não estão sobre a sua jurisdição e controle, é um bom sinal - eles são tão fugidios e escorregadios como um sabonete redondo molhado. O máximo que você pode fazer - uma das possibilidades - é continuar com o zazen, o real zazen sem objetivos - nada a procurar, nada a encontrar.

Neste sentido é que eu digo a você que não se trata de algo especial, ou o tal do prêmio merecido. Se você for uma pessoal "normal", o que creio que é o caso, não se trata de nada que vai transtornar ou mudar radicalmente a sua vida. É bem capaz que, alguns poucos minutos depois de levantar do tal "verdadeiro zazen", você se veja novamente com a sua irritação, com a sua raiva, com o seu querer demasiado apaixonado. A corrente continua fluindo, meu caro; não se engane achando que há uma fácil panacéia. É esta discrepância entre a sua vida cotidiana e o "verdadeiro zazen" que é o terreno da nossa prática cotidiana. A prática de cada um.

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