terça-feira, 30 de junho de 2009

As raízes (I)


natthi rāgasamo aggi natthi dosasamo gaho
natthi mohasamaṃ jālaṃ natthi taṇhāsamā nadī

Não há fogo como a paixão (rāga), não há armadilha como a aversão (dosa);
não há rede como a delusão (moha), não há rio como a sede (taṇhā).


rāga, dosa e moha são conhecidos como as três raízes do "mau" (akusalamūla), que são extintas com o sopro do nibbāna (nirvāṇa), as três raízes que são desenraizadas com o nibbāna. O símile é bem vívido: quem lembra da preocupação do Pequeno Príncipe em arrancar os mudinhas inocentes de baobá? "[...] atravanca todo o planeta. Perfura-o com suas raízes. E se o planeta é pequeno e os baobás numerosos, o planeta acaba rachando". Ao se preocupar em tirar as mudinhas inocentes de baobás todas as manhãs, o principezito evitava de ter de contratar uma retroescavadeira amanhã - por bons motivos, até hoje ninguém viu uma retroescavadeira sendo carregada por pássaros.

Mas sim, senhor acadêmico, usei "mau" entre "aspas" para chamar a atenção: a palavra akusala é a palavra usada aqui, e ela tem um significado mais sutil, como todas as palavras em páli aqui presentes.

kusala e akusala, "bom" e "mau", podem ser traduzidas assim se temos em vista a ética do budismo, e o que seria "bom" e "mau" visto desta forma. Como, porém, a ética do budismo não é um conjunto de regras fáceis e está pautada em um treinamento e experiência, uma tradução adequada, usada frequentemente, é "hábil" e "inábil", tendo em vista o dhamma (dharma). Outra tradução também utilizada é "saudável" (wholesome) e "nocivo" (unwholesome).

akusalamūla são, então, as raízes das ações inábeis ou nocivas, que encontrando o solo certo - o momento certo e as condições certas - podem gerar seus frutos, ou não.

Em outro verso famoso do páli, temos:

Sabbapāpassa akaraṇaṃ kusalassa upasampadā
Sacittapariyodapanaṃ etaṃ buddhāna sāsanaṃ.

Não fazer o mal, recolher/trazer/adquirir o bom/saudável/hábil,
limpar a própria mente, eis o ensinamento de buddhas.


(Todos os termos em páli devem ser lidos com um grão de sal. É comum que traduzamos um termo em páli, o dialeto em que os sutras budistas foram transcritos, e nos apeguemos a esta tradução. Siddhartha era um jovem xátria, que depois de sair de casa estudou com os samanas mais conhecidos de sua época, e não é de estranhar que seu vocabulário tenha emprestado praticamente tudo do vocabulário usado na época, pelo vedismo e pelas escolas āstika hindus, a Yoga inclusive.

Ao procurar no sânscrito, porém, a história de uma palavra, temos que tomar cuidado. O uso das palavras muda constantemente, e o páli não é uma continuação do sânscrito, ou um sânscrito com mudanças fonéticas, ou um sânscrito adaptado, ou mais popular; é uma forma escrita de um prácrito, uma das várias formas concorrentes de falar que eram usadas na época, assim como até hoje não há uma só língua na Índia. É possível que o idioma que o Buda falava fosse sequer o páli, mas sim um dos prácritos existentes então, o maghadi, do reino do rei Bimbisara.)

[continua...]

domingo, 28 de junho de 2009

Um pequeno adendo, sem figuras, escrito como a continuação de um texto por vir - e que ficou muito grande e descontextualizado, além de chato

Isto, aos meus olhos, é um grande problema. Quando alguém chega e diz que o budismo envolve a extinção dos desejos, eu sinto que, apesar da maior boa-vontade, há algo errado. É evidente que alguma parte desta reação é de uma pessoa deludida que vê nos seus desejos uma forma de realização, mas parar por aqui seria ser insincero comigo e com os outros. Há algo errado em dizer que o budismo prega a extinção dos desejos.

Eu posso estar errado, porém, então é melhor que todos parem de ler por aqui. Quanto aos computadores, eles não leem e não desejam, então estes bits somente acrescentam um pouco de gás carbônico na atmosfera.

Há um platonismo enrustido que percebe-se em muitos dos que procuram o budismo. A idéia de perfeição, pureza, de fim do desejo, de "outro lugar", de espiritualidade, de eternidade-para-alguém. Não há nada de errado com estas palavras: afinal de contas, que seria o budismo senão uma espécie de barquinho para a eternidade, para o "espiritual", para a "perfeição"? Mas são somente palavras. Escutamos "perfeição" e vemos a perfeição que gostaríamos de ver, nada mais. Para alguns, é uma perfeição perfeita; para outros, uma perfeição imperfeita, ou uma imperfeição a perfeitar. Isso não é importante. Para uns, pode ser o céu; para outros, a morte e nada mais. Também não é importante.

Nada contra Platão tenho eu. Eu também gostaria de ter ombros mais amplos. A questão é que, como todo bom filósofo, Platão apontou para um caminho, com palavras, e imediatamente formou-se uma visão sólida, que exclui tudo o mais. E as consequências seguiram-se inexoravelmente: não é a nossa filosofia uma série contínua de notas de rodapé ao platonismo? Esta é a nossa herança, e temos que saber lidar com ela. Até mesmo o nosso niilismo mais gostoso olha para Platão de soslaio.

Não é de estranhar, portanto, que um dos primeiros contatos do ocidente com o budismo-e-demais-tradições-indianas produziu, entre várias coisas, a tal da Blavatsky. Não é de estranhar que as tradições espirituais do oriente cheguem até aqui com uma forte familiaridade de idéias, reencontrada depois de séculos. Isomorfia inerente da vida espiritual humana, em todos os séculos e lugares, perguntarão uns? Ou releitura de uma cultura por outra através de seus óculos coloridos, dirão outros?

Chega desta chatice.

O "caminho do meio" não é apenas uma via de moderação, ou de andar por cima por muro. Talvez nem chegue a ser isto. O caminho do meio é o cortar em um. Acha que estou brincando com as palavras? Vá ler o Shodoka, vá shikantaza. Eu ainda preciso falar mais um pouquinho.

O "caminho do meio" chega a ser um pouco chocante. O budismo aponta para os paradoxos do pensamento, e isto está lá nos sutras originais, em páli, também, e não somente no desenvolvimento ulterior do zen ou que-seja. Não que o caminho do meio seja paradoxal e, portanto, "sem sentido"; quem diria que o paradoxal é o sem-sentido trairia sua maneira de pensar, a de quem procura a identidade no pensamento, no logos, nas Idéias. O "caminho do meio" é paradoxal pois ele precisa ser apontado com palavras, e descrito com palavras, mas as palavras caem em paradoxos que podem, sim, ser resolvidos, mas não em termos de palavras e idéias.

Ou alguém pode me explicar, com clareza e satisfação, de modo que eu possa ter uma compreensão racional vívida e clara, para que eu possa seguir o exemplo, do que seja o "caminho do meio"? Quero uma fala vívida e clara, idêntica a si mesma, sem espaço para contradições, do que seria cada um dos eixos do caminho óctuplo.

Não dá. A maneira de transmissão é outra. Quem achar que dá, por favor não entre em contato comigo.

A filosofia lidou com isto de forma admirável, evidentemente. Ninguém chegou e disse "a minha fala é o logos, logo eis a minha fala". A filosofia - e os filósofos, e não digo todos eles -, lidaria com isto com uma tentativa de aproximação - por exemplo, a dialética. A dialética é admirável. O ideal, porém, o "onde chegar", é o mesmo: a identidade do logos. Parece uma missão impossível, e talvez realmente o seja.

O caminho do meio, porém, não é impossível. Ele é possível. Sempre voltamos ao zazen, e quando começamos a sair dele voltamos novamente, como Shohaku Okumura roshi/sensei (dúvida) falou. "Não estamos querendo, mas continuamos indo, como eu", disse o monge Tokuda.

sábado, 20 de junho de 2009

Pegadas do Buda


Os detratores da Wikipedia que me perdoem, mas ela é fundamental.

Concordo que não fornece informações acuradas para uso científico, técnico e acadêmico, mas ela é uma excelente fonte de "primeiras informações", aquele tipo de dado que você vai usar para fazer uma pesquisa mais profunda, depois do café com cardamomo.

Foi graças a ela, por exemplo, que encontrei a palavra petrosomatoglifo, e agora posso entrar no assunto que me fez chegar a tal paroxítona: as tais de pegadas do Buda, que não deixam de ser petrosomatoglifos.

Buddhapada são os primeiros símbolos daquilo que seria uma nova "religião" mundial, o budismo. Como o peixe (ikhthys) do cristianismo primitivo, é pouco usado e conhecido atualmente, embora esteja em vários templos e estátuas em vários países - e apesar de eu ter comprado um pequeno buddhapadinha no Busshinji, para dar de lembrança a um amigo.

(Mas, para ter uma idéia, um dos monges zen en passant não reconheceu o que era aquilo, confundindo com um símbolo da sorte japonês, como o sapinho verde ou o passarinho azul.)

E, como o peixe, acho um símbolo muito mais elegante e interessante do que os símbolos comuns, seja a cruz ou a roda de oito eixos. O budismo, evidentemente, tem uma simbologia imensa - o que não nos devia nos surpreender, com 2600 anos de história qualquer coisa pode e deve ter uma simbologia imensa. Alguns são mais conhecidos, outros menos. A flor de lótus e a já mencionada roda fazem parte dos primeiros, enquanto que o guarda-sol e o casal de peixes dourados fazem parte dos segundos.

As pegadas do Buda apontam, simultaneamente, para a presença e para a ausência.

Pessoalmente eu posso entender o sentimento da presença. Ele está presente em várias formas, sejam religiosas ou não. Afinal, mesmo que Freud tenha sido - graças a D'us - um ateu empedernido (ou no dito mais bonito de Gay um "judeu sem D'us"), os devotos psicanalistas ainda vão em peregrinação à casa do pai da psicanálise. Freud já morreu, ele não está lá, e todos sabem disso; mas a expectativa de pisar naquele chão, de sentar na cadeira dele, de tocar nas suas estátuas, preciosidades arqueológicas que ele mantinha às vistas de seus pacientes - inclusive uma estátua antiquíssima do Buda - e, maravilha das maravilhas, deitar naquele divã e quem sabe, quem sabe...

Isto é aura. Ou seria mana? Levi-Strauss chama de mana aquele poder "simbólico" que emana de figuras com poder... simbólico, me faltam as palavras. Um xamã teria mana. Freud teria mana. Mana é o poder que emana, para usar um trocadilho hipnagógico, pronto.

Pisar no mesmo chão que Fulano pisou, sentar na mesma cadeira que Sicrano sentou, comer do mesmo pão - a estas alturas irreconhecível no meio do mofo - que Beltrano comeu... vai dizer que, dependendo do Fulano, Sicrano e Beltrano não dá um friozinho na barriga? (No caso do pão pode ser intoxicação alimentar.)

Pode ser Freud, Buda, _______ (preencha com uma personalidade de sua preferência), ou aqueles amores da nossa vida... aqueles que ficamos remoendo depois de acabados, e estranhamente não fazemos nada a não ser remoer e querer ver os mesmos lugares - aqui ele passou a mão na minha e nossos olhos se encontraram como se o mundo tivesse sido criado naquele momento (enquanto você passa a mão pela areia da praia, como se a areia fosse trazer aquilo tudo de volta)...

Não estou querendo dizer que as pessoas cavavam, em rochas, réplicas do pé de Buda esperando trazer o Buda-amor-de-suas-vidas de volta. Mas eu sei que amores não estão somente distribuídos "eroticamente". Os desígnios da transferência são amplos. Respeito e veneração - ah, a etimologia não é tola! - têm suas raízes no amor.

A questão é: a casa de Freud é uma casa muito comum e vulgar, como todas as outras, até você saber que a casa de Freud é A Casa De Freud (se você for psicanalista e/ou tiver qualquer relação de respeito ou veneração - arrá! - pelo mesmo). Estes galpões cercados de mato e arame farpado velho foram, 50 anos atrás, um campo de concentração onde morreram milhares de pessoas - oh!. Esta capelinha minúscula e mal-iluminada como qualquer outra está construída em cima do lugar em que Jesus foi crucificado - ah!. Ad nauseam.

A presença de um ideal torna um lugar mais sagrado que outros, para muitos. A pegada de um Buda santifica, torna mais venerável - hum... - um lugar, especialmente se acredita-se que a pegada é, de alguma forma, verdadeira, e não somente uma escavação em pedra. Olha, o Buda esteve aqui, falou aqui, sentou aqui, e pisou aqui; e eis aqui a marca.

Há, claro, várias outras camadas de sentido das pegadas do Buda, que não ouso ir mais fundo por preguiça e desconhecimento. No zen, quando nos prostramos em diversas situações - em rituais, no cumprimento a um roshi, etc - apoiamos a cabeça no chão e levantamos as duas mãos do lado do cabeça, para que possamos receber os passos de Buda sobre elas. Deixamos que Buda pise em cima de nós, nos use para não sujar os pés.

Eu vos digo que, se dependesse das minhas prostrações, Buda não iria muito longe: estaria apertado para ir no banheiro, ou para fazer um lanchinho na geladeira. Sugiro que ele procure uma escola mais prostrativa. Isto é, se ele quiser andar muito: fora isto, estou à disposição.

Mas aí então chegamos à ausência. Buda não precisa ir muito longe, com ou sem prostrações, pois ele já foi embora - para todo o sempre - e não volta. Não há promessa de retorno. Parinibbana e pronto. "Mãe, para onde foi a vovó?" "Ela foi viajar e já volta." Besteira; contudo, ei-nos como essa criança. Ananda chora - um senhor já idoso chora - preocupado com o futuro de seus irmãos, depois da ida do Tathagatha. Quem vai cuidar de nós? Sejam vocês mesmos a vossa luz, o vosso farol, eis que responde o Buda, a morrer.

Seguindo os passos de Buda: ele trilhou esta senda, e cuidadosamente seguimos pisando nos seus passos. Ele é a nossa luz, o nosso farol. Então ele dá o último passo, e zóim, finit, para nunca mais. Acabaram-se as pegadas. Preservamos este último passo com cuidado - quem sabe ele nos possa indicar para onde ir... Diz-nos que agora somos nosso próprio farol. Ele morreu. Ele pisou aqui, e nunca mais pisará, e as pegadas se apagam na areia da praia, se não forem gravadas em pedra.

Ele nunca mais pisará. Cadê o Buda?

terça-feira, 16 de junho de 2009

Atingindo o alvo agora mesmo


Não é o suficiente atingir o alvo uma só vez. Os acertos perfeitos do ano passado são inúteis. Você deve atingir o alvo agora mesmo.

It isn’t enough to hit the bull’s eye once. Last’s years perfect marks are useless. You’ve got to hit the bull’s eye right now.

foto maravilhosa encontrada nos vastos pampas da net (palavras-chave: kyudo archery bull-eye mato)

Lições de um sesshin


Há um boi,
ele é branco;
pasta acima,
dorme embaixo.

Ou é o contrário?

[foto de Michel Seikan, no belo álbum aqui]

domingo, 14 de junho de 2009

"Água em grandes imensidões, flores de um vermelho profundo"


返本還源已費功,
爭如直下似盲聾,
庵中不見庵前物,
水自茫茫花自紅


Muitos passos foram tomados para voltar à raiz, à fonte. Melhor se eu tivesse sido cego e surdo desde o começo! Residindo em sua verdadeira moradia, despreocupado com o que está fora - o rio flui tranquilamente e as flores são vermelhas.

Too many steps have been taken returning to the root and the source. Better to have been blind and deaf from the beginning! Dwelling in one's true abode, unconcerned with that without -- The river flows tranquilly on and the flowers are red.


Ele voltou à origem, retornou à fonte,
Mas foi em vão que tomou suas providências.
É com se estivesse agora cego e surdo.
Sentado em sua cabana, não almeja as coisas que estão fora.
Os riachos serpenteiam por si mesmos,
As flores vermelhas desabrocham naturalmente vermelhas.


Como sempre, traduções apresentam os seus percalços. O terceiro texto é a tradução – de uma editora brasileira – do segundo texto, em inglês, e o primeiro é a minha tradução, rápida e pessoal, do mesmo texto... e o título do post é uma compreensão, também minha, dos ideogramas da última linha do poema. Então, na dúvida, ainda forneço o texto original de Kakuan, em jachinês, para que vocês possam verificar por si mesmos, ou não.

Erramos: os dois textos citados são de livros diferentes, embora refiram-se aos mesmos versos.

domingo, 7 de junho de 2009

Um livro de receitas e uma cartela de aspirina


Nenhum desastre ocorreu nos primeiros sesshins em que cozinhei, mas eu estava completamente exausta e não me sentava até depois do jantar. Eu ia para cada sesshin com um livro de receitas em uma mão e uma cartela de aspirinas na outra. Era muito cansativo. Mesmo assim, eu sabia que havia algo lá para mim: “não deveria ser deste jeito”, dizia a mim mesma, “eles não fazem assim em um mosteiro”. Eu nunca estive em um mosteiro, mas eu sabia que este não era o jeito certo.

Um dia, finalmente, enquanto preparava a comida, decidi ver se poderia criar um cardápio que pudesse ser completamente preparado no período de zazen de 40 minutos, antes da refeição. Para ser desta forma, imaginei, a comida teria que ser simples. Ok, pensei, quer as pessoas gostem ou não eu vou fazer a comida mais simples que eu posso, para ter uma base. Vamos ver o que eu realmente posso fazer em um período.

Então eu tentei. Em vez de uma salada sofisticada, as pessoas encontravam pedaços de maçãs frescas misturadas com cubos de queijo. Em vez de sopas e cremes complicados, os ajudantes serviam conchas de sopa de vegetais com aipo e cenouras em cubos. Uma coisa engraçada começou a acontecer: enquanto antes as pessoas me diziam educadamente, depois do sesshin, como a comida estava boa, agora elas começavam a me dizer “nossa, aquelas maçãs e aquele queijo estavam muitos bons!” Que decepcionante! Que maravilhoso! Quanto mais simples a comida, mais as pessoas gostavam dela!

sábado, 6 de junho de 2009

Tédio


Nada é mais insuportável ao homem do que estar em pleno repouso, sem paixões, sem atividades, sem distrações, sem aplicações. Ele então sente seu nada, seu abandono, sua insuficiência, sua dependência, sua impotência, seu vazio. Sem se controlar ele deixa sair do fundo da sua alma o tédio, o negrume, a tristeza, o desapontamento, o rancor, o desespero.

Rien n'est si insupportable à l'homme que d'être dans un plein repos, sans passions, sans affaire, sans divertissement, sans application. Il sent alors son néant, son abandon, son insuffisance, sa dépendance, son impuissance, son vide. Incontinent il sortira du fond de son âme l'ennui, la noirceur, la tristesse, le chagrin, le dépit, le désespoir.


Quando fiquei, uma vez, a considerar as diversas agitações dos homens, e os perigos e sofrimentos a que se expõem, na corte, na guerra, onde nascem tantas brigas, paixões, empresas difíceis e frequentemente ruins, etc., eu descobri que todo o mal dos homens vem de uma só coisa, que é a de não saber ficar em repouso em um quarto.

Quand je m’y suis mis quelquefois, à considérer les diverses agitations des hommes et les périls et les peines où ils s’exposent, dans la cour, dans la guerre, d’où naissent tant de querelles, de passions, d’entreprises hardies et souvent mauvaises, etc., j’ai découvert que tout le malheur des hommes vient d’une seule chose, qui est de ne savoir pas demeurer en repos dans une chambre.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Sesshin de dia dos namorados!

Já ia me esquecendo: no final de semana do dia dos namorados haverá um sesshin promovido pela CZBF. Venha, traga seu significant other, e aprenda a amar sem contato verbal e/ou físico – i.e. sexo em sesshin não pode.

Sesshin (接心, setsu shin) é, literalmente, uma absorção, uma concentração, um rendevouz, uma reunião – como um pastor que recolhe e reúne as ovelhas – da mente. É uma prática monástica do zen japonês que nós, leigos ocidentais, ficamos desejosos de copiar; um período em que toda a atividade não-essencial de um mosteiro zen pára, e o zazen (e entrevistas com o professor) tomam conta.

A alvorada lá na Cachoeira do Bom-Jesus é uma beleza, tirando o fato que acordamos todos muito cedo e ainda está escuro. Quer dizer, a noite também é uma beleza. Provavelmente estará muito frio, se o clima continuar deste jeito.

Abaixo vai um dia típico de um sesshin daqui (este começará na sexta de noite e terminará no domingo ao meio-dia, então sábado é o único dia “completo”):

04:00 - Shinrei (Alvorada)
04:20 - Zazen (meditação formal sentada)
05:00 - Kinhin (meditação em movimento)
05:10 - Zazen (meditação formal sentada)
05:50 - Choka (cerimônia matinal de recitação de Sutras)
06:30 - Refeição da manhã (café da manhã formal)
07:30 - Samu
08:00 - Intervalo (caminhada ou alongamento)
08:30 - Zazen 30’
08:40 - Kinhin 10’
08:50 - Zazen 30’
09:20 - Intervalo
09:30 - Palestra do Dharma
10:30 - Zazen 40’
11:10 - Kinhin 10’
11:20 - Zazen 40’
12:00 - Refeição do meio-dia (almoço formal)
13:00 - Descanso, permitido banho rápido (deitados nos quartos em silêncio)
15:00 - Zazen 40’
15:40 - Kinhin 10’
15:50 - Intervalo
16:00 - Palestra do Dharma
17:00 - Zazen 40’
17:40 - Kinhin 10’
17:50 - Zazen 40’
18:30 - Refeição leve da noite (informal)
19:30 - Exercícios de alongamento
20:00 - Zazen 40’
20:40 - Kinhin 10’
20:50 - Zazen 40’
21:30 – Chá, preparação para dormir
22:00 - Apagar as luzes e dormir

O cronograma de um dia de sesshin em Antaiji, por exemplo, é um pouquinho mais sintético:

04:00 às 09:00: zazen/kinhin
09:00: café-da-manhã
10:00 às 15:00: zazen/kinhin
15:00: almoço
16:00 às 21:00: zazen/kinhin
21:00: apagar as luzes