sábado, 10 de janeiro de 2009

Prática com o corpo

hábitoEmbora todos nós nos impressionemos com feitos de resistência física, tais não deveriam ser um objeto privilegiado da prática da meditação.

Siddhis, como eram - e são - conhecidos na Índia os "poderes especiais" possíveis em yogis e afins, são, de certa forma, uma realidade comprovada. Não estou falando de levitação e coisas mais elaboradas, que talvez existam, como posso saber eu? Falo de feitos "físicos": alterações impressionantes do metabolismo. Gente que aumenta a temperatura corporal, gente que aguenta extremos de temperatura e pressão, gente que enfim. Práticas como o tummo, entre outras diversas práticas, inclusive as práticas ascéticas que foram companheiras de Sidarta durante seis anos - tapas e afins.

Voltando, porém, para o nosso reino, o reino das pessoas comuns, sentar-se em zazen envolve um aprendizado sobre o corpo. Todos temos nossas dissimetrias, nossos limites, nossos costumes, e a postura do zazen desenvolve, com o tempo, uma mudança no corpo e seus hábitos. Pequena, grande, não importa.

Pequenos passos acompanham esta prática. Uma das coisas mais interessantes que eu aprendi - ou melhor, da qual fui convencido pelo corpo - é a de ir até os limites do meu próprio corpo.

Acabo de voltar de uma corrida. É, voltei a correr. Depois de meses sem atividade física - além das caminhadas obrigatórias do dia-a-dia - volto a correr, que é de graça e faz bem. Suar é bom. Dizem que banho frio de manhã cedo também. E eu fui uma espécie de tri-atleta uma época, quando eu tinha uns 17 anos. Corria, nadava e bicicletava. E me sentia bem. Durante um episódio de depressão "clínica", uma das coisas com que eu mais me preocupava era em fazer exercício. Não é interessante? Se eu ficava sem, eu me sentia ainda pior.

Existe, grosso modo, dois tipo de correr: o correr pelo correr e o correr para chegar - em algum lugar. Real ou imaginário. Correr para fazer tantos metros por hora, correr para desenvolver o ritmo respiratório, ou correr para fugir de um boi brabo (isto ainda acontece em Floripa). Os dois correres são, na verdade, uma mesma coisa, mas o que difere um correr de outro? É comum que quem quer começar correndo como um profissional desista no meio do caminho, de vergonha ou de exaustão.

É preciso respeitar o ritmo do seu corpo. Ou, melhor colocando, é estupidez tentar levar corpo - e mente - além do ponto, somente para conseguir algo. Se a prática é vista como uma espécie de exercício, ela vira algo especial, algo fora da vida cotidiana. A vida cotidiana é: correr é bom para mente e corpo, e começa-se dando passos pequenos, num ritmo devagar, para aumentar - se for o caso - aos poucos. Correr rápido pode ser um "objetivo" - bem alcançável, por sinal, dadas as condições - mas correr é a prática. O mesmo vale para lavar pratos e varrer o chão. Se bem que não gosto de secar a louça.

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